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Abril, Sempre!

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Mas porque raio, ano após ano, continuamos a evocar o 25 de Abril? A inundar as redes sociais com publicações sobre a revolução?

Para que serve tudo isto?

A meu ver, a resposta é muito simples: serve para que a memória não se perca.

Para que não seja manipulada pelos novos fascistas, aos quais eufemisticamente nos referimos hoje como “iliberais”, que querem convencer jovens inseguros de que o 25 de Abril foi uma mentira e que no tempo de Salazar é que era bom. Não era.

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Salazar era um ditador.

O ditador corrupto que mandou perseguir, tortura e matar, em nome de uma ordem baseada no medo e na miséria, que fez Portugal andar para trás quando a Europa andava para a frente.

O 25 de Abril salvou-nos de um regime medíocre, violento, atrasado e de vistas muitíssimo curtas. Do qual ainda hoje pagamos uma elevada factura, seja na economia, seja na própria relação com o dinheiro, que o Estado Novo demonizava pela sua impureza, enquanto se deixava corromper pelos poderosos e garantia que as suas elites viviam faustosamente e acima das regras e do moralismo que impunha aos comuns mortais. Como o escândalo de pedofilia Ballet Rose veio comprovar.

Uma factura que se sente na literacia, a todos os níveis, e que agora regressa sob a forma de uma certa liberalização do racismo, materializado numa histeria relativamente à vinda de milhares de imigrantes dos quais a economia portuguesa precisa, desesperadamente, e que pagam hoje milhares de reformas dos nossos idosos.

Não alinho com a romantização que certa esquerda faz da política de imigração.

Falhamos, em toda a linha, na recepção e acolhimento destas pessoas. Não existe legislação nem processos que nos permitam lidar adequadamente com a sua chegada.

Ou com a influência das redes de tráfico de seres humanos que operam em Portugal.

Ou com os casos miseráveis de 20 imigrantes a viver na mesma casa. Não os vemos na rua todos os dias por serem muitos. Vemo-los, sobretudo, porque é impossível que 20 pessoas estejam todas, ao mesmo tempo, no mesmo T2.

No entanto, e num momento em que a proliferação de notícias falsas sobre subsídios à balda e alegadas violações geram discussões grotescas nas redes sociais, num tom e linguagem muito idêntica à usada pelos nazis, que se referiam aos judeus como “ratos” ou que consideravam que imigrantes, sobretudo de outras raças, não eram gente, importa confrontar o discurso ignorante com factos.

E o primeiro é este: os imigrantes da Índia, do Brasil ou do Bangladesh não são assim tão diferentes dos portugueses que fugiram para a França, o Luxemburgo ou o Canadá. A larga maioria destas pessoas só quer uma oportunidade para ter uma vida melhor. Quer trabalhar, ganhar o seu e não chatear ninguém. E o facto de procurarem Portugal revela uma certa atractividade da nossa economia, onde há anos impera o pleno emprego e que precisa destes trabalhadores em sectores como o turismo, a restauração ou a construção. Não sou eu que o digo, são as associações patronais.

Não deixa de ser curioso que o grande farol deste extremismo identitário sejam os EUA, um país construído por imigrantes, que chacinaram aos autóctones e construíram o país que hoje conhecemos, e que tem sido, ao longo das últimas décadas, um dos grandes responsáveis pelo êxodo de milhões, sobretudo do Médio Oriente. E a grande ironia de tudo isto é que, sem imigrantes, os EUA nunca teriam sido a superpotência hegemónica que ainda são. Os EUA são irlandeses, italianos e polacos. São judeus fugidos da Alemanha Nazi. São os holandeses que fundaram Nova Amesterdão e ensinaram o capitalismo aos restantes. São os escravos africanos das plantações. São os mexicanos que já lá estavam. E foi a soma de todos estes, e mais alguns, que criou as condições para o desenvolvimento científico e tecnológico que colocaram os EUA na linha da frente. Desde 1901, 35% dos prémios Nobel conquistados pelos EUA foram fruto do trabalho de imigrantes. O homem mais rico do mundo, que reside nos EUA, é, também ele, um imigrante. Chama-se Elon Musk e nasceu na África do Sul.

Sim, é preciso regular a entrada de imigrantes em Portugal. Qualquer pessoa concorda com isto. Mas é também preciso combater a desinformação e desumanização que prolifera. Bem sei que, para alguns oportunistas da política, tudo não passa de business as usual. Já as forças democráticas, independentemente do seu lugar no espectro, devem opor-se à narrativa fascista que ganha força. Os números não costumam mentir. E o que eles nos dizem é que, se acedêssemos aos delírios dos extremistas, milhares de empresários do turismo, da restauração e da construção vão simplesmente ficar sem mão de obra para funcionar. A receita da extrema-direita não é só uma receita de ódio. É uma receita de recessão e crise económica.

E é também por isto que nunca podemos deixar de evocar Abril. Porque a democracia é frágil, tem inimigos sem escrúpulos e primeiro acaba para os indianos, ou para os judeus, ou para os ciganos, mas, invariavelmente, acaba para nós também. Tivemos 48 anos disso. Chegou e sobrou. 25 de Abril, Sempre! Artigo para ler em www.onoticiasdatrofa.pt
http://dlvr.it/TKmHw8

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