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Não é Sim

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Defendo, desde o início da actual legislatura, que, a bem do regime democrático, PSD e PS devem entender-se em torno dos grandes temas de interesse nacional. Saúde, Educação, Trabalho, Habitação e Administração Pública são alguns deles. Como tal, entendo que, dadas as actuais circunstâncias parlamentares, podem e devem os dois partidos negociar uma solução orçamental que não mergulhe o país na ingovernabilidade.

Não defendo, contudo, uma reedição do bloco central. Soluções dessa natureza, entendo, são más para a democracia. E abrem o flanco às generalizações populistas e demagogas dos extremistas. Defendo, isso sim, convergências em temas consensuais, acima das ideologias de cada partido e abaixo do primado do Estado de Direito que rege o ecossistema das democracias liberais.

Uma negociação, contudo, pressupõe cedências. E abertura para negociar. E sendo o governo a parte mais interessada na aprovação daquele que é seu Orçamento do Estado, é dele que deve partir a iniciativa de diálogo.

Como sabemos, não é isso que tem acontecido.

E, por essa razão, foi com surpresa que vi Pedro Nuno Santos anunciar a abstenção do PS na votação do OE25.

Mas a minha surpresa não se deve ao conteúdo do documento que o líder do PS prometeu deixar passar. Um documento que, no geral, poderia ter sido apresentado por António Costa e Fernando Medina.

Deve-se, sobretudo, a três outros factores:

À narrativa confrontacional do PS

Ao tom hostil que a AD usa contra os PS.

À proximidade programática entre AD e CH.

Quem vê, ouve e lê os oráculos de PS e PSD, não encontra ali ponta de convergência por onde se pegue.

Aliás, o PSD tinha no CH o interlocutor perfeito para aprovar a redução pretendida do IRC e a obscenidade do IRS Jovem. Porque o CH e o PSD têm essa clientela em comum: os mais ricos entre os mais ricos. E estavam alinhados em ambas as propostas.

Dir-me-ão que PSD e CH nunca se poderão entender, porque um dia, num debate, Luís Montenegro disse que “não é não”.

Mas esse “não é não”, convenhamos, não vale nada. Basta olhar para os entendimentos entre ambos os partidos nos Açores e Madeira ou para as reuniões pouco secretas entre Ventura e Montenegro. Se o “não é não” fosse para levar a sério, a AD não se envolveria em discussões orçamentais com a extrema-direita.

E não é só nos temas que interessam às elites que AD e CH se aproximam. Basta estar atento às similaridades narrativas em temas como a imigração, a IVG ou a desregulação económica. Para não falar nas eleições presidenciais americanas, sobre as quais o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, e o cabeça de lista da AD às Europeias, Sebastião Bugalho, se pronunciaram recentemente, não encontrando diferenças substanciais entre uma candidata normal e um amigo de Vladimir Putin, que promoveu um golpe de Estado por não aceitar o último resultado eleitoral.

Assim, o “não é não” pode rapidamente tornar-se num “não é sim”. Porque muito mais é aquilo que une Montenegro e Ventura do que um e outro estão dispostos a admitir. E aquilo que hoje é – alegadamente – verdade, amanhã poderá muito bem não ser.

Como o crescimento económico de 3,4%, projectado pela AD para 2028, que se transformou em 1,8% no espaço de poucos meses.

Ou os 1500 milhões que o governo ia cortar no IRS, 1327 dos quais tinham afinal sido decididos e anunciados por António Costa.

Ou as cativações, outrora uma maleita socialista, em vias de bater o recorde nacional com o OE25.

Montenegro tem o direito de governar, enquanto for capaz de conseguir aprovar o seu plano no Parlamento. Mas o seu futuro, lamento, parece-me cada vez mais ao lado do CH. O “não é não” não passou de um pregão eleitoral. A menos, claro, que Pedro Nuno Santos escolha o suicídio político.Leia a notícia em www.onoticiasdatrofa.pt
http://dlvr.it/TFr8JH

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